Quem já dividiu a cama com alguém que ronca sabe a dificuldade para conseguir dormir — ou para manter a paciência com o incômodo barulho. De acordo com uma pesquisa do Instituto do Sono em parceria com o Datafolha, 42% dos paulistanos roncam. Porém, há esperança de sonhos mais tranquilos, com tratamentos específicos para a questão, que incluem um novo produto.
O ronco nada mais é que o som da vibração dos tecidos da faringe, provocado pela obstrução parcial das vias aéreas superiores. Apesar de não se tratar de uma doença por si só, o ruído frequentemente está relacionado a alguma condição que requer atenção. Pode ser sintoma, por exemplo, da apneia obstrutiva do sono (AOS). “Quando a passagem de ar se contrai, chega a um ponto em que a faringe se fecha e o ar não entra”, explica a médica Luciana Palombini, do Instituto do Sono de São Paulo.
“Essa ausência de ar, por dez segundos ou mais, é a apneia do sono. Muitas pessoas têm diversas apneias, tipo cinquenta, sessenta paradas por hora. E, ainda assim, não acordam nenhuma vez.” Segundo a especialista, há vários graus da enfermidade que são identificados na polissonografia, o exame que detecta alterações durante o sono. A partir do nível moderado, já ocorre diminuição de oxigenação no cérebro. “A doença aumenta o risco cardiovascular e metabólico e pode causar hipertensão arterial, infarto, AVC e diabetes”, pontua.
Leia também
7 alimentos com mais proteína que os ovos
Charutos de luxo - e até envelhecidos - se mantêm relevantes; saiba como começar
Guia prático para não ser um homem tóxico
Fatores genéticos e ambientais favorecem a apneia do sono e, consequentemente, o ronco. Assim, os homens tendem a roncar mais do que as mulheres por motivos como a faringe mais longa. “A obesidade também representa um fator de risco, porque obesos costumam acumular gordura no pescoço e na língua, volumes que obstruem a faringe”, explica o otorrinolaringologista Lucas Padial.
O som é associado ainda ao bruxismo, o apertar ou ranger de dentes no sono. Nesse caso, a pessoa costuma usar uma placa em razão da qual pode respirar de boca aberta ao dormir, tornando a musculatura da região mais flácida e aumentando a probabilidade de ronco. Consulte um especialista para recomendar uma placa específica que cuide das duas condições.
Dormir de lado (posição em que a língua não “tomba” tanto para a faringe como quando em decúbito dorsal), perder peso, evitar o consumo excessivo de álcool (que relaxa os músculos da região e aumenta a congestão nasal) e de cigarros (o que irrita as vias aéreas) são práticas que auxiliam quem enfrenta complicações com o ruído. Vale frisar: a altura do barulho depende da estrutura da faringe e não tem relação direta com as doenças. Ou seja, um ronco mais alto não significa um problema maior — a não ser, talvez, para quem dorme ao lado. Felizmente, existem tratamentos que melhoram o ruído a longo prazo.
“Indico muito a fonoterapia, pois a faringe é um músculo e, se não treinado, torna-se flácido. A cirurgia de faringoplastia (reposicionamento dessa musculatura) também é uma opção, desde que o paciente conte com uma anatomia favorável e predisposta ao sucesso”, explica Padial. Aparecem na lista ainda as faixas antirronco, que mantêm a boca fechada, e os coletes, que impedem que se durma de barriga para cima, além do aparelho CPAP, que oxigena o organismo.
Como novidade, há um spray nasal brasileiro, o Roncolliv, lançado em agosto, que promete diminuir o barulho. O principal componente do produto é o polisorbato, que atua como um lubrificante das vias aéreas e facilita a passagem de ar. A promessa é que os resultados sejam percebidos em um mês contínuo de uso — são indicadas de quatro a seis aplicações em cada narina quinze minutos antes de dormir, diariamente. O spray pode aliviar o sintoma, mas não necessariamente sua causa.
Padial pede cautela ao apostar no artigo. “A grande pergunta sempre é o motivo do ronco”, afirma. “Se for por obesidade, por exemplo, o spray não funcionará por causa da gordura da língua. Se envolver algum fator anatômico, como uma amígdala muito grande, também não.”
Mais em Condé Nast